quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A cerimônia do ensino






Na escola dos meus sonhos o estudo não seria somente o alimento da mente e da alma, o que já pode ser considerado um sonho, mas seria também como alimentos que consumimos com água na boca.                    

Na direção desta escola os projetos seriam planejados como se para uma maravilhosa festa de casamento, onde se pensa em cada mínimo detalhe com muito amor e carinho; e se escolhe todo o cardápio, da entrada à sobremesa, querendo agradar a cada convidado presente.  

E é claro que em um casamento não temos somente um jantar muito caprichado, e sim todo um “entorno” extremamente planejado. Então na minha escola além de um cardápio caprichado haveria “complementos” muito empolgantes. 

              Na sala dos professores a empolgação, para compor o cardápio e servi-lo, seria maravilhosa. A matemática logo de cara escolheria fazer parte das entradas, e é lógico que argumentaria a escolha utilizando uma lógica: “a matemática é a base de tudo, está incluída em todos os conteúdos, tudo é matemática”.  

              A matemática pensaria nas maneiras fantásticas de trabalhar os números em suas bandejas que seriam redondas, triangulares, quadradas, hexagonais..., e estariam cheias de canapés, quiches, tortinhas, empadinhas, tortilhas, mini crepes, todos com aromas fantásticos, que fariam o convidado, ou melhor, o aluno flutuar ou ainda elevar a 3ª ou 4ª potência até a bandeja, mas tudo servido na medida certa, para não atrapalhar o restante do jantar.

            A língua portuguesa ficaria com o cerimonial, deixando suas regras claras através da etiqueta, do por favor, e do muito obrigado que podem (e devem) ser utilizados sem restrições, a todo tempo e em qualquer lugar. O sabor de elaborar deliciosas frases e compreender palavras fascinantes pode ser comparado a um manjar dos deuses e todos se deliciariam.  

              A história planejaria estar presente ao longo de todo o tempo, relatando todos os acontecimentos e auxiliando na percepção dos sabores, das descobertas, e também dos dissabores, dos momentos doces e dos amargos que poderiam surgir, portanto ficaria com as bebidas.

             A física se preocuparia com o movimento (uniforme, retilíneo, circular...) de todos, para que dois corpos não pretendessem ocupar o mesmo lugar no espaço vindo a se chocar, o que poderia provocar uma reação já que toda a ação leva a uma reação. E para que nada tivesse um sentido negativo e estragasse todo o magnetismo do momento manteria sua ótica sempre no foco.   

              A geografia viria com os pratos típicos de cada país, uma viagem gastronômica maravilhosa, o ensino teria sabores e temperos diversificados como nossas etnias, temperaturas variando entre lavas de vulcões e pontas de icebergs, cores como as dos trópicos, das savanas, do cerrado, das tundras...

            A química escolheria a sobremesa, e com que nobreza faria a união dos elementos, em reações de síntese surgiriam algumas das guloseimas, já outras seriam através das diferentes condições de temperatura e pressão; mas todas surpreenderiam pelos seus resultados com formação ou quebra de moléculas e todos se deliciariam com toda essa explosão de conhecimento.  

               A biologia provocaria um espetáculo à parte. Com um olhar curioso para todas as situações faria com que os convidados levantassem questionamentos do tipo: “porque fiquei com água na boca antes mesmo de me servir?”, “o que acontece com o alimento dentro do meu corpo?”, “as pessoas estão se preocupando com sustentabilidade?”, “o que posso fazer para melhorar a minha relação com o planeta?”. Entre um prato e outro realizaria “visitas de campo” ao redor da festa, veria quanta vida existe no tronco de uma árvore ou em meio a um gramado; quanta organização em um formigueiro, e quanta beleza e perfume no canteiro das flores.                                                               

É claro que para realizar toda esta festa de aprendizagem muita ajuda se faz necessária. Não realizamos todas as refeições na escola, portanto na escola dos meus sonhos os pais se preocupariam com a educação dos seus filhos, e seriam parceiros da escola, e ajudariam a despertar em seus filhos o gosto por chocolate, que é bem fácil e por jiló, não tão fácil. E para que os alunos tivessem um prato bem diversificado e colorido na cerimônia do ensino que planejei, a escola dos meus sonhos necessitaria de recursos financeiros e um olhar mais açucarado, doce e belo dos governantes; vislumbrando a capacidade e a garra do seu povo que mesmo com tão pouco, diria que com o arroz e feijão, não desiste dos seus sonhos e lutam por EDUCAÇÃO.





Ana Paula Felipe Jordão
Graduanda em Ciências Biológicas na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Trabalhou durante 20 anos com chocolate e arte. Esposa e mãe apaixonada.

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