quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Nova Escola – Sonhos e Realidade





Assistimos a um cenário em que o professor encontra-se em uma crise identitária. O imaginário em que ele se apresenta como detentor do saber desaparece. Na sociedade hodierna, verificamos que professor e alunos são sujeitos ativos na construção do saber. Se no passado o distanciamento entre as duas entidades era grande, hoje, ainda que a interação professor-aluno seja assimétrica, observa-se que a voz deste último emerge no seio escolar, estreitando esse distanciamento.
O que aqui chamo de “crise identitária” pode ser exemplificado pela frustração da classe docente quando se vê “desarmada” perante a indisciplina na sala de aula. O professor que se vê como detentor do saber e faz o “apagamento” do aluno enquanto sujeito discursivo olvida-se de sua função formadora de sujeitos pensantes e questionadores, ativos no meio social. Sem “armas”, o professor vem valendo-se de avaliações de caráter punitivo.
Quando tenho em mãos o livro didático, com as diretrizes estabelecidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, que vislumbra o diálogo com os outros saberes, penso em uma aula completamente contrária àquela marcada por uma visão tradicionalista. Sempre me pergunto: “Estou utilizando o texto literário como pretexto para ensinar gramática?”, o que é abominável nos dias de hoje. Quero que meus alunos sejam sujeitos partícipes do binômio ensino-aprendizagem.
A título de exemplificação, trabalhei o conto “A Cartomante”, de Machado de Assis em turmas de segundo ano do Ensino Médio. Com isso, visava não apenas inserir elementos da narrativa ou aspectos estilísticos do referido autor, ou ainda elementos do Realismo Brasileiro, mas, sobretudo, aguçar a criticidade de meus alunos. Em um segundo momento pretende traçar um paralelo entre o realismo machadiano e a pós-modernidade. A leitura de Machado me parece tão atual para falarmos em uma “pós-modernidade”, em fragmentação do “eu-sujeito” e, consequentemente em sua crise identitária. Após a leitura da obra, vamos assistir ao filme “A Cartomante”, e verificar como essa narrativa foi transposta, no cinema, para os tempos atuais. Não se trata de uma versão fiel à obra do fundador da Academia Brasileira de Letras, embora a intertextualidade seja marcante: Rita (Deborah Secco) se apaixona perdidamente por Camilo (Luigi Barricelli), mas há um problema: ela está noiva de Vilela (Ilya São Paulo), o melhor amigo de Camilo. Em dúvida sobre o futuro, Rita decide consultar uma cartomante, porém, o que as cartas lhe revelam indicam um caminho diferente do que diz sua psicóloga, Dra. Antônia (Sílvia Pfeiffer).
Desdobramo-nos para tornar nossas aulas atrativas, por meio de dinâmicas e outras atividades nas quais o aluno possa revelar suas habilidades diversas. Contudo, o mundo exterior à escola parece ser mais atrativo. A Internet, ferramenta criadora de relações virtuais, ainda permite que o aluno encontre sínteses de obras literárias, e até mesmo, análises de tais obras. Recordo-me de que, quando aluno do Curso de Letras da Universidade Federal de Uberlândia, enquanto alguns liam a obra na íntegra, outros estavam munidos de um roteiro extraído do meio eletrônico. Quando íamos ser avaliados, ficava impressionado – as questões da avaliação podiam ser respondidas com o simples roteiro extraído da Internet.
Cumpre reavaliarmos nossa prática docente. Há, ainda, muitos professores presos ao passado, ensinando, por exemplo, orações coordenadas e subordinadas e, aposteriori, exigindo em suas provas a nomenclatura de tais orações. Deveríamos priorizar, em nosso ensino, o efeito semântico obtido pelo emprego de tais orações.
O que me faz feliz na prática pedagógica é o dialogismo propiciado pelo livro didático com o qual estou trabalhando. Lá estão inseridos problemas de matemática, questões científicas, dentre outras, proporcionando ao professor de Língua Portuguesa o diálogo com as demais disciplinas. E essa é a tendência atual de ensino.
E, afinal, como seria a escola ideal?
Falar em escola ideal é falar em perfeição. Falemos, então, em uma escola plausível aos moldes do século XXI.
É possível uma escola combater a evasão de alunos. O professor pode contribuir para com isso por meio de aulas dinâmicas, estabelecendo uma relação saudável com aqueles. Minha experiência tem revelado que, por meio do estreitamento da relação aluno-professor, muito pode ser conseguido. A equipe administrativa também é responsável pelo combate à evasão. Devemos ter muito cuidado com nossas falas. Estas têm o poder de cativar, mas também o de ferir. A escola do século XXI não é aquela que “empurra” conteúdos e sim aquela que atende aos reais interesses do indivíduo. Há um programa a ser cumprido, há diversos mecanismos para alcançarmos nossos objetivos de maneira prazerosa tanto para o aluno quanto para o professor. A escola deve respeitar as diferenças, afinal, não somos formas geométricas. O corpo discente deve ter voz: o silêncio da sala de aula nem sempre corresponde ao aprendizado. Devemos formar alunos críticos. Não estamos produzindo máquinas em série. A escola deve constituir-se como espaço de diálogo, portanto, não pode ignorar pais e a comunidade.
É necessário acabar com a compartimentação do que ensinamos. Em sua formação, o aluno perceberá que tudo o que faz é intermediado pela linguagem. E a linguagem a que me refiro não está inserida apenas no ensino da Língua Materna pelo professor de Língua Portuguesa, mas no conjunto de disciplinas da grade escolar. Destarte, cabe uma reflexão entre os educadores – não estamos simplesmente preparando alunos para ocupar uma cadeira na universidade, mas, sobretudo preparando-os para as dificuldades que enfrentarão no seio social. A prática docente decente deve, em suma, nortear-se por uma formação humanística.
Faz-se mister quebrar o paradigma de que quem estuda na rede particular de ensino tem mais chances de abarcar a vida acadêmica. Devemos exigir de nossos governantes políticas que valorizem a figura do professor. Afinal, a educação é uma das garantias fundamentais preconizadas pela Constituição Federal.  

 

Marcelo Almeida 
Graduado em Letras (Português-Inglês) pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós graduado em Linguística – Análise do discurso na mesma instituição. Professor de Língua Inglesa em escolas de idiomas, professor efetivo de Língua Portuguesa na Escola Estadual Paulo José Derenusson.


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