quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A escola dos meus sonhos





A escola dos meus sonhos em termos de edifício seria semelhante à casa muito engraçada de Vinicius de Moraes: não teria teto, não teria nada. É uma não-escola, com não-professores e não-alunos... E não-ensino e não-aprendizagem… Sem horários (exceto os das refeições) e com longos intervalos (apenas interrompidos pelas refeições!).
E o que acontece nesta não-escola? Nada que não possa acontecer numa escola. Os não-professores fazem as atividades típicas dos não-professores (e alguns até poderão dar lições!) e os não-alunos engajam-se nas tarefas típicas dos não-alunos (e alguns até poderão assistir às lições dadas por alguns dos não-professores!).
Na não-escola não há aulas obrigatórias, apenas voluntárias. Na não-escola não há tarefas para os não-alunos realizarem, apenas desejos e objetivos para serem concretizados. Na não-escola não há regras disciplinares a respeitar, apenas pessoas que respeitamos e que nos respeitam. Na não-escola não há leituras obrigatórias, apenas as voluntárias e prazerosas. Na não-escola não há notas azuis e vermelhas, não há aprovações, reprovações e progressões, apenas o que sabemos, o que não sabemos e que desejamos saber. Na não-escola os não-professores e os não-alunos não têm lugar marcado, apenas há a necessidade e o desejo de estar com os outros (seja qual for o motivo!). Na não-escola não há visitas de estudo seguidas de composições descritivas dessas visitas, apenas idas a locais aprazíveis e conversas com pessoas interessantes. E os não-alunos que quiserem escrever sobre a visita não estão proibidos de tal!
Um dia típico na não-escola é de um tipicismo difícil de descrever, porque os horários a cumprir incluem apenas as refeições (exceto nos dias de praia ou de passeio). Os não-professores e os não-alunos chegam à hora que quiserem (ou à hora combinada no dia anterior)… Não há campainhas para lembrar atrasos (exceto para as refeições!) ou para dividir o dia em pedaços melancolicamente sofridos… Não-professores e não-alunos entram e saem da escola ao sabor dos seus desejos e combinações e vão para casa à hora que lhes for mais conveniente… Em caso de impedimento para comparecer na escola, não-professores e não-alunos só comunicam esse impedimento por respeito e consideração com os outros não-seres.
A não-escola não é centrada nos professores, nem nos alunos, nem no ensino, nem na aprendizagem… É descentrada nisso tudo e centrada naquilo que é verdadeiramente importante: democracia, liberdade e felicidade… Onde todos contam igualmente, no respeito mútuo e sem subterfúgios. A não-escola tem como lemas “uma pessoa, um voto”, “a minha liberdade acaba onde começa a liberdade do outro” e “o direito à felicidade”… A não-escola não é uma escola de pernas para o ar: é apenas o que uma escola deveria ser!

Pedro Jorge Caldeira
Professor de educação a distância do Instituto Superior de Educação e Ciência (Lisboa).
Residente em Uberaba.


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