quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A escola dos meus sonhos






Uma escola precisa ter, em primeiro lugar, um portão de entrada bem grande, não uma portinhola por onde passam nossas pessoas físicas, mas um portão grande, que se abra por inteiro e deixe passar nosso ser por inteiro: a pessoa e os seus desejos, sua bagagem inteira.  Daí, quando você entra dá de cara com um enorme jardim, para chegar às salas de aula você precisa, necessariamente, passar por um jardim. Mas não é um jardim comum, é um jardim cheio de histórias. As árvores (sim, com árvores!) terão plaquinhas, mas não para colocar nomes científicos, terão plaquinhas com os nomes e as datas de quem as plantaram, alunos antigos, que queriam deixar ali uma coisa maravilhosa para os que iriam chegar. Porque as árvores são seres maravilhosos, mágicos....  E não se pode passar pelo jardim com pressa. Há que se maravilhar um pouco, olhar para os lados, ver que flores novas se abriram, que flores se foram com a mudança das estações. Passando pelo jardim os sonhos se acomodam nas mentes, as tristezas ficam mais apagadas, a vida começa a ter uma cor diferente.
Depois disso a sala de aula. Tal e qual o jardim: com marcas pessoais, carteiras que parecem confessionários, por onde passaram segredos, amores, saberes mil. Sentado ali o tempo é outro, os mistérios das ciências vão se revelando, as pessoas (alunos) vão se descobrindo engenheiros, cientistas, poetas, professores... as possibilidades existem, estão por ali, ao vento, ao alcance das mãos. Os dias vão se passando, a cada novo dia uma nova descoberta, um segredo revelado. Na sala de aula as pessoas se encontram, se resolvem, se abraçam, se emocionam. Ali dentro pode-se dar asas à imaginação, pode-se colorir qualquer vida, pode-se viver livremente, sem limitações, sem aborrecimentos maiores. Os limites de cada um se impõem, mas não para aborrecer, e sim para dar aos sonhos a matéria, a matéria viva e real de cada um, do que podemos ser. 
Saindo dali temos ainda a secretaria, a diretoria, a sala dos professores, a cantina. Precisa ter tudo isso? Não sei... mas tem. Tem um lugar só para os professores se encontrarem, guardarem suas coisas e ficarem leves, leves a caminhar com as outras pessoas, lado a lado... Ninguém fica muito tempo na sala dos professores, porque eles querem mesmo é se misturar, virar meninos de novo, colher flores, subir nas árvores, brincar um pouco com os outros. Quando não estão nas salas de aula ficam no jardim, na cantina. Onde houver um aluno há também professores, por quê? Porque simplesmente são pessoas que se gostam e por isso querem estar juntas. 
A diretoria é só para reuniões quase. A diretora também adora maças e está ali no pomar o tempo todo, a vigiar as suas árvores. Dali ela pode ver todas as salas de aula, todos os alunos e professores. Dali ela também pode resolver qualquer problema que aparecer, pode ver a cantina e as cozinheiras (lindas) trabalhando. Pode ver a portaria e também os banheiros, além do pátio da cantina.
Nas reuniões se discute como podem as pessoas que habitam aquela escola serem mais felizes. Como podem aprender mais e mais, sendo cada vez mais felizes. Estratégias, árvores, flores e poemas... tudo é matéria de reunião. Se algum aluno não vai bem precisamos ver o que está acontecendo com ele. Talvez precise passar mais tempo com as mãos na terra, talvez precise passar mais tempo colhendo as flores para levar às salas de aula... estratégias de purificação da alma... esse tipo de assunto intriga os professores. Eles estão a um passo de descobrir como ter alunos muito felizes e que ao mesmo tempo possam levar toda essa poesia, todo esse conhecimento para fora daquela escola maravilhosa.
Na cantina temos os mais diversos tipos de mesa: quadrada, redonda, oval. Todo tipo de formato. O professor de matemática adora a cantina! E a cantina continua nos jardins ao redor, tem bancos para podermos sentar e comer, e lugares para fazer um monte de lanche, sentados ao chão. As comidas são feitas por mãos amigas, com bons pensamentos e boas lembranças.... o que poderia ser mais saudável? 
E tem a tesouraria também. Um lugar onde o dinheiro pode servir para melhorar a vida de todos. O que entra é investido na escola: adubo, mais mudas, comidas, livros, muitos livros... 
Tem salas com computadores também. As pessoas gostam de saber como está o outro lado do mundo. Mas só um pouquinho, porque não dá tempo de ver tudo que acontece no mundo e ainda viver tanto! 
E tem um rio que passa pela escola. Ele chega cansado, mas sai da escola tão limpinha e feliz que não vê a hora de encontrar novas matas e desbravar novos terrenos.  O rio alegra as pessoas todas, o barulho do rio é o barulho que se ouve na hora de fazer as provas. 
Porque tem provas sim. Prova de tudo: de subir em árvore, de matemática e de português. E ninguém tem medo de prova. Todo mundo adora prova, porque os professores fazem as provas para os alunos acertarem tudo, para provar a eles do que são capazes, para que todos acreditem que poesia e jardim podem construir ruas e prédios, calcular pontes e cidades inteiras. As provas são boas e as pessoas gostam das provas, é a hora de trocar experiências, de aprender mais, de saber se o que foi aprendido está guardado dentro da gente ou se já se foi, voando com o vento. 
O portão de entrada é o mesmo da saída, mas ninguém tem problemas de confundir entrada com saída. Todo mundo leva essa escola no coração, por onde for.... 
 
 
Anete Formiga 
Doutoranda em Anatomia Vegetal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
 Autora de livro para crianças e com experiência no ensino básico.

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