quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A escola dos meus sonhos




O início do sonho desta escola já será descrever que a partir do momento em que me tornei professora por escolha e não por falta de opção já pensava em uma escola diferenciada. Durante muitos anos, trabalhei na perspectiva de projetos de ensino e pesquisa com alunos do primeiro ano da educação básica. Aprendi com crianças em momentos ímpares de plena curiosidade de todos, desde quando entrasse uma borboleta em nossa sala quanto um acontecimento inusitado em torno de um problema ou informação que nos interessasse de maneira dialógica e propositiva. Naquela época não havia internet, portanto, pedia sempre que a turma pesquisasse em revistas, jornais, livros e pessoas mais velhas sobre os assuntos coletivos de interesse comum a nossa turma.
Acontece que há uma estreita relação entre sociedade e a educação indica que transformações sociais demandam mudanças no espaço escolar. E um dos fatores que tentarei escrever é porque esta escola que temos, neste momento, não atende aos nossos filhos, alunos e todos, incluindo até mesmo aos docentes. 
Esta escola formal baseia-se em conteúdos elencados, sem uma estrutura hipertextual e ao menos hipermidiática deixou há tempos de fazer sentido. O abrir e fechar livros e cadernos por áreas e temas estanques não fará nenhuma diferença na atuação desta criança ou adolescente seja para a sua vida, para a academia ou mesmo para o mundo do trabalho.
Sonho com uma escola da mediação, com uma escola que perceba as perguntas individuais de cada aluno, que personalize a atuação e potencialize o que a criança e o adolescente tenham de melhor. Assim, fazendo-o descobrir e desvelar o seu potencial para a contribuição no coletivo e desenvolvimento de trabalhos em grupos articulados com as habilidades que cada um em sua diversidade apresenta. Mas e as outras habilidades, não serão trabalhadas? Só o potencial criativo e as inteligências serão otimizadas? Não? A partir do momento que descubro em cada um o que ele tem a contribuir, o desafiarei para aprender e a se  dedicar em suas brechas e possibilidades.
Uma metodologia da descoberta, do conhecimento interior e do potencial linkado e coletivo dos seres humanos. Esta escola precisará apresentar propostas e percursos de ensino e aprendizagens individuais e coletivos. Ora nos encontraremos para discussão dos projetos pessoais e ora teremos projetos coletivos para que todos contribuam com a proposta aberta, dialógica, empírica e baseada na práxis.
Bem, esta escola não tem que ter tantos aparatos tecnológicos não. Basta cadeiras confortáveis, paredes coloridas e abertas para serem registradas com observações, desenhos e filmes desenvolvidos pelos alunos, um computador ou tablet para cada criança e seus orientadores, um espaço verde com árvores frutíferas, horta e um lago natural e limpo. Um espaço fechado para os momentos de chuva e vento frio, mas o maior tempo em espaços abertos, embaixo de uma mangueira, trepados em galhos de jabuticabeiras, nadando juntos no lago com patos e peixes. Muitos momentos de lazer, de celebrações do aniversário, da conquista de finalizar o seu álbum de figurinhas ou mesmo de uma descoberta para o projeto de pesquisa (individual ou os projetos coletivos) das turmas. Horas a fio de apresentações pessoais e em grupo das pesquisas e o que fazer para continuar neste projeto ou mesmo desisti. Estas apresentações poderiam acontecer primeiramente para os pares e professores orientadores e depois para todos em plenárias, nos campos abertos do saber.
Estas turmas se organizariam em alguns momentos por idades, principalmente nos momentos de lazer e convivência, mas também estariam ao longo do dia em encontros por tema (sem pensar na idade, mas sim no tema interesse do turno ou do dia de trabalho). Cada um desenvolveria o seu plano de trabalho e os temas que participaria naquele dia. A orientação e a mediação aconteceriam aí, no momento das escolhas, nós professores faríamos a mediação e também desenvolveríamos os nossos projetos de pesquisa e apresentaríamos nossas descobertas.
As crianças e os jovens gostam de saber o que estamos lendo e quais são as nossas dúvidas. O que estudamos e como estudamos diariamente. Eles entendem os momentos de reclusão para a escrita de uma tese ao mesmo tempo apoiam quando pulamos com eles na cama em meio aos travesseiros e cobertas espalhados. As dúvidas são bem mais interessantes que as certezas. Sonho em uma escola com gente que pensa em um mundo melhor, mais humano, mais amoroso e fraterno.
Mas neste espaço também terá momentos de angústias, reprovações desistência de algum projeto, nada que nos impeça de recomeçar e de pensar diferente sobre o mesmo assunto, ou até mesmo abandonar o tema e partir para uma nova escolha consistente, entusiasmada e que nos faça sempre aprender e querer mais.
Uma dica de hipertexto para o meu texto: http://www.youtube.com/watch?v=Pz4vQM_EmzI Aprender a aprender.

 
Luciana Zenha
Professora universitária há mais de quinze anos pela Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG no curso de Pedagogia. Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG pesquisa redes sociais e aprendizagem online e tecnologias educacionais.  Coordena produção de material didático em EAD. Tem como campo de interesse as tecnologias sociais e culturais, robótica e redes em formação.


Nenhum comentário:

Postar um comentário